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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A linguagem e sua relação com a falta


Mariana Rodrigues Ferreira

Introdução

Tenho um interesse particular quanto ao que se refere à metáfora paterna, a falta, o limite, a castração, e tudo o mais que envolve esse contexto, por isso a ideia de falar sobre “A linguagem e sua relação com a falta”.
Inicio o trabalho falando sobre a metáfora paterna e a sua função na constituição do sujeito, caminho para a inscrição do sujeito na linguagem e termino falando sobre o psicótico, simplesmente aquele onde a metáfora paterna não foi inscrita, e para o qual a linguagem encontra alguns desvios.

A metáfora paterna

O inconsciente é estruturado enquanto linguagem a partir da metáfora paterna. A função paterna intervém na relação entre a mãe e a criança, estando “estruturalmente ligado à situação edipiana, da qual ele constitui, de certa forma, o ápice resolutório” (Dor, 1989). Para o complexo de Édipo, sua função é interditar a mãe, representando aquele que faz cumprir a lei de proibição do incesto, através da ameaça de castração. Este não é o pai da realidade, antes sendo uma metáfora, ou seja, um significante que substitui outro significante.
O Nome do Pai (NP), sendo uma metáfora, é um significante que substitui o significante do Desejo da Mãe (DM), resultando assim na significação fálica. A metáfora paterna barra o Desejo da Mãe, visto que entra como representante da lei da castração, à qual também a mãe deverá estar submetida. Nesse ponto, “a criança é interditada ao gozo do Outro materno” (Ribeiro, 2005, pág. 56).
A falta ocupa o lugar imaginário para o objeto fálico, que tem uma função apaziguadora, produzindo um distanciamento entre a criança e sua mãe. O efeito decorrido daí é de “separação do sujeito em relação ao lugar de objeto do desejo do Outro” (Ribeiro, 2005, pág. 56). A autora cita Lacan, trazendo-nos a imagem de um rolo que, ao manter a boca do jacaré (a mãe) aberta, impede que a criança seja devorada.

Inscrição do sujeito na linguagem

Nos primeiros momentos de sua vida, a criança é falada principalmente por sua mãe, o seu primeiro Outro. Ela fala sobre o filho, e faz com que este pense que sua mãe realmente sabe quem ele é, entretanto há uma impossibilidade de se dizer tudo sobre a criança. O Outro materno transmite então um vazio à criança, pois suas palavras não a definem, mas abrem a possibilidade de que, um dia, ela própria sustente sua existência.
Lebrun refere-se ao ódio voltado à linguagem, quando somos obrigados a reconhecer o lugar do outro. O ódio situa-se no próprio ser - posto que somos feitos do material do outro - é voltado ao Outro que está em nós mesmos, ao Outro que somos. Escreve: “(...) falar é também colocar o outro em si, reconhecê-lo ali, revelá-lo como inscrito no coração de nosso ser.” (Lebrun, 2008) E completa:

“Temos ódio pelo fato de falarmos, pois falamos apenas com palavras que vêm do outro, nós somos, portanto, cada um, primeiramente e antes de tudo, uns importunados, uns constrangidos pela língua que vem sempre do outro, uns alienados, portanto, uns limitados pelas palavras, uns escravos da linguagem.” (Lebrun, 2008)

Falar nos coloca diante do vazio, da perda do imediato, tendo a ver assim, com o desejo como conceito definido por Lacan. Falar pressupõe uma perda, “falar supõe (...) comprometer-se pela fala, assumir responsabilidades” (Lebrun, 2008).
O autor continua, afirmando que falar induz o ódio. Entretanto, diferencia o ódio humano, da agressividade do animal.

“Este é, por isso mesmo, diferente da agressividade que habita o animal e a qual, convenientemente, conhecemos bem por meio da História, pois ela não alcança o que o ódio é suscetível de produzir nos humanos.” (Lebrun, 2008)

Mas então, o que o ódio seria capaz de produzir nos humanos?

A fala para o psicótico

Na psicose, “há um corte, uma suspensão da possibilidade de falar” (Ribeiro, 2005). “É um nada querer saber sobre a castração” (Ribeiro, 2005). “Na alucinação verbal, a cadeia significante se impõe ao sujeito em sua dimensão de voz e os distúrbios de linguagem, observados na psicose, testemunham a falta da inscrição do Nome do Pai no Outro, que faria ponto de basta na cadeia, impedindo os significantes de se desencadearem, isto é, de se desarticularem da cadeia.” (Ribeiro, 2005)
A função do pai relaciona-se à nomeação, como afirma-nos Lacan: “(...) reduzo o Nome do Pai à sua função mais radical que é a de dar nome às coisas, com todas as consequências que isto comporta” (Lacan, 1974/1975). Dessa forma, há a possibilidade de que um outro significante ocupe a função de suprir o Nome do Pai, e que nomeie e regule o gozo de alguma maneira. A significação fálica, criada pelos neuróticos não seria a única resposta possível à metáfora paterna, sendo possível a criação pelos psicóticos de um ponto de amarração entre os três registros, fazendo suplência ao Nome do Pai.

  
Bibliografia:

DOR, J. Introdução à leitura de Lacan, Porto Alegre: Artes Médicas, 1989
LACAN, J. O seminário, Livro 22. R.S.I. Inédito, 1974/1975
LEBRUN, J.P. O futuro do ódio, Porto Alegre: CMC, 2008
RIBEIRO, J.M.L.C. A criança autista em trabalho. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005

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