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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Autismo e psicose infantil


Mariana Rodrigues Ferreira

Autismo e desenvolvimento dos estudos infantis:

O autismo não é um desenvolvimento anormal do sujeito, mas uma posição assumida pelo mesmo diante do real. É uma resposta do sujeito ao meio em que vive, uma posição ativa e não passiva.  Postura radical de não ceder à voz e não falar. Quanto à etiologia do autismo, várias hipóteses são estudadas, entretanto, na psicanálise prioriza-se a observação do como cada caso se constrói.
Alguns dizem que o autismo é uma parada no desenvolvimento, ou uma regressão à fase inicial. Nesse caso, é como se o autismo fosse uma fase do desenvolvimento na qual alguns indivíduos estacionam.
Freud e Lacan consideram o autismo como uma estrutura situada dentro do campo da psicose. Diferenciam autismo da esquizofrenia e da paranóia.
No início dos estudos em psiquiatria infantil, só havia um diagnóstico para as crianças: a “idiotia” (dificuldade cognitiva, afetiva e social). Era um diagnóstico dado a qualquer distúrbio na infância. Os autistas eram crianças agitadas, não conseguiam aprender e possuíam a fala desarticulada.
Eram consideradas duas categorias para a idiotia: a congênita (ou incurável) e a adquirida (para qual poderia haver uma solução). Para o pensamento inicial, a loucura seria algo adquirido, enquanto a idiotia seria inata. A psiquiatria da criança aparece realmente apenas após a psicologia do desenvolvimento e a criação da psicanálise por Freud, que rompe com a lógica da psiquiatria, afirmando que o sintoma é uma tentativa de cura.
Ainda hoje, a doença mental na infância é considerada um distúrbio, e não loucura. No DSM IV, o autismo é incluído à categoria de transtorno invasivo do comportamento.   
Diagnóstico diferencial: no autismo não há anomalia orgânica, como surdez, déficit de inteligência ou outros. A marca comum em todos os autistas, e que os diferencia dos esquizofrênicos é a inaptidão para estabelecer contato afetivo com o outro desde o início da vida. “Solidão autística” (desdenha, exclui tudo o que vem do exterior). Diferentemente da esquizofrenia, os sinais de autismo podem ser observados desde o início da vida. A esquizofrenia infantil, entretanto, pode ser observada através de esquisitices, dificuldades escolares,...

Intrusões do mundo externo para o autista:

No autismo, tudo o que vem do outro é extremamente invasivo (o olhar, a voz,...). Têm pavor à multidão e festas. A linguagem não tem função de comunicação. Podem até falar, mas apenas repetem o discurso do outro, fala sempre na terceira pessoa.

·                    A alimentação é a primeira intrusão vinda do exterior
·                    Tudo o que diz respeito às zonas erógenas é conflituoso para o autista (alimentação, fezes, urina)
·                    Barulhos fortes é outra intrusão
·                    Não têm noção de tempo e espaço
·                    A linguagem não é utilizada para se comunicar
·                    Ecolalia (falar na terceira pessoa, como se fosse o outro falando dele)
·                    Nunca falar “eu”
·                    Uso literal do sentido das palavras

Rejeição do nome do pai, ou foraclusão do nome do pai:

·                    Freud: rejeição
·                    Lacan: foraclusão

Foraclusão do nome do pai é quando não há a inscrição na lei do incesto, não há a lei de castração. Na psicose a lei não é inscrita psiquicamente e retorna através de alucinações, delírios (invasão de gozo). A função do pai é uma função metafórica que vai interditar a mãe. O nome do pai barra a onipotência da mãe.
A foraclusão do nome do pai acarreta todos os fenômenos característicos da psicose. Aquilo que não foi inscrito no simbólico aparecerá no real. A psicose é a não inscrição da metáfora paterna. Não há então a presença do sujeito, pois este não está inscrito. Para a psicanálise, entretanto, o autista é tomado como um sujeito. Há uma procura de entender a lógica dessas crianças, visando-se o sujeito e não o sintoma.

O corpo do autista:

No autismo não há conjunção de um corpo próprio. O corpo dele e o do outro são uma coisa só.



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